sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016

Belleville.

Voltando à programação original do blog... Que tal resenha nova?



Lucius alugou uma velha casa ao se mudar para Campos do Jordão para cursar a faculdade de matemática.
E, sendo o cara extremamente lógico que é (afinal sua facilidade é com os números), não vê muita utilidade no projeto de uma montanha-russa abandonada nos fundos do terreno.
Ele descobre o projeto ao localizar uma caixa enterrada atrás da casa onde se encontra uma carta datada de 1964, assinada por uma tal de Anabelle pedindo que o próximo morador terminasse o projeto de seu pai: construir Belleville, uma espécie de "montanha-russa de quintal", afinal seu pai veio a falecer antes de terminar o brinquedo.
Apenas tocado pela situação da menina, Lucius decide escrever uma carta reforçando o pedido de Anabelle e deixar dentro da caixa para que o próximo morador a encontre, mas depois de enterrar novamente o objeto ele percebe que a terra foi remexida, e quando vai ver se a carta ainda está lá, descobre que Anabelle lhe respondeu.
No início Lucius acredita ser tudo uma brincadeira, mas à medida que mais cartas são trocadas ele começa a se perguntar como isso pode estar acontecendo e, de repente, erguer Belleville se mostra a única forma de ajudar Anabelle em suas dificuldades, 50 anos atrás...

Ela acreditava em mim; então, por que eu me recusaria a fazer o mesmo em relação a ela?

Eis aqui meu primeiro contato com uma obra do Felipe Colbert. Não sabia muito bem o que esperar dela antes de colocar minhas mãos no livro, mas já imaginava que fosse algo bom. Não estava nada enganada. Belleville é um livro maravilhoso em sua simplicidade, incrível em sua delicadeza e apaixonante em sua narrativa. Não possui nada que vai te conquistar logo na primeira página nem algum diferencial excepcional, sabe? Não conseguiu me roubar logo de início e nem sou capaz de dizer em qual momento ele finalmente me sequestrou, só sei que, quando me dei conta, estava super envolvida na história de Lucius e Anabelle.

No fundo, queria que Anabelle aparecesse naquela filmagem. Não para me certificar de que estava falando com ela; mas para aceitar o fato de que precisava que ela existisse.

A narrativa é rápida e descomplicada e mostra os dois lados da história. Os capítulos são curtos e bem divididos, então quando você termina um logo está ansiando pelo próximo, por isso o livro acaba sendo lido bem mais rápido do que você imagina. O envolvimento é muito grande e vai, aos poucos, te levando para a situação problema, mas sem apresentar uma solução prática. Por muito tempo me perguntei como o autor finalizaria a obra, não acreditando ser possível um desfecho digno e sem pontas soltas. Felizmente ele conseguiu fazer isso, mas já aviso que ele não faz muito uso (em todo o livro, na verdade) da lógica. Não foi um problema comigo e acredito ter sido um grande diferencial.

Nós dois precisávamos crescer, cada qual a sua maneira.

Lucius é um personagem bem desenvolvido, mas não muito marcante. Não é super inteligente, não é muito engraçado e nem sarcástico. Na verdade é quase sem sal. Isso seria um problema se a sua companheira de cena não fosse exatamente o seu oposto. Anabelle é forte e determinada e apesar de (ou talvez seja exatamente por isso) enfrentar muito mais problemas do que Lucius, é a responsável por fazer a história ter movimento e ser mais interessante. Sua presença é bem mais marcante e cheia de significados. A personagem carrega um passado difícil e isso faz com que sua narrativa seja mais emocionante. Nem preciso dizer que preferia os capítulos narrados por ela, não é?

Não era fácil me separar da lógica, mas eu havia assistido a filmes e a livros em que gostaria de estar no lugar do protagonista, e agora havia chegado a minha vez.

Enfim, no geral Belleville foi uma leitura muito boa, me distraiu e envolveu. Não sei dizer qual é o ponto principal, aquilo que realmente me sequestrou, mas a obra como um todo é inteligente, interessante e emocionante. Foi meu primeiro contato com o autor e gostei do que li, por isso espero voltar a ler algo dele em breve. E realmente recomendo a leitura, principalmente por sua narrativa, que consegue ser rápida, concisa e até mesmo estilosa, e também seu desfecho inteligente e surpreendente.

Eu precisava provar, talvez mais a mim mesmo do que a meu pai, que tudo estava sob controle, que eu era capaz de me sustentar sozinho, que minha vida andava nos trilhos.

Sobre o autor:


FELIPE COLBERT é autor de quatro livros, palestrante e estruturador de romances. Possui trabalhos publicados no Brasil e na Europa. Carioca, atualmente vive na cidade de São Paulo com sua esposa e filho.

Outras informações:
Compare o preço: Buscapé.
Título: Belleville.
Editora: Novo Conceito.
História: 5/5.
Narrativa: 5/5.