sábado, 20 de fevereiro de 2016

A rainha Normanda.

Que tal resenha nova?





É o ano de 1002 e Emma, da Normandia, tem apenas 15 anos e está atravessando o Mar Estreito em direção à Inglaterra, onde irá se casar com Æthelred II, o poderoso rei inglês - que já possui vários filhos adultos. Eles se conhecem na igreja, no momento do casamento.
Nesta hora, Emma, que já sentia a ausência de sentimentos para com o marido, percebe que não terá nada além do que o rei é obrigado a lhe dar: a coroa.
Ciente de que está em terra desconhecida e preocupada com sua segurança, Emma começa a fazer alianças perigosas, mas insignificantes se comparadas com o amor impossível - por Athelstan - que a acomete. A rainha está sozinha lidando com inimigos grandiosos e poderosos...


Ela estava tão além de se seu alcance quanto a Lua.
No entanto, ele a amava - o que ainda o deixava perplexo. Apesar das leis de Deus e do homem, apesar até mesmo da própria vontade, ele a amava. (Pág 118).

Fui conquistada por este livro logo de cara, quando vi a capa dele, sem nem mesmo ler a sinopse. No entanto, minutos antes de iniciar a leitura, um amigo me disse que não havia gostado da obra. Fiquei desanimada na hora. Cinquenta páginas depois, eu ainda estava desanimada, mas nem tanto... (falei um pouco sobre isso aqui) Um pouco mais de tempo e... Eu já não sabia mais quem era Yara, muito menos o que seria São Paulo, Brasil ou século XXI. Só conhecia Emma, Aethelred II, Athelstan, Elgiva, a Normandia, a Inglaterra, a Baixa Idade Média e os Vikings. Não é sempre que isso acontece, principalmente em se tratando de livros com conteúdos históricos verdadeiros. Então é claro que me deliciei com cada página, me envolvi abertamente nas complicações da vida da Emma e torci desesperadamente para que, de alguma forma, ela conseguisse um final feliz.

Seu dever era lutar, e cabia aos religiosos resolver as coisas com o Senhor. (Pág 183).

Aqui temos uma protagonista um tanto complexa, pois apesar de sua pouca idade, apresenta uma maturidade incrível e consegue agir de forma racional nas situações mais sentimentais. Uma menina-mulher que não se deixa abater, que luta, tenta se proteger, busca um final feliz para sua história, mas em momento algum esquece sua posição na sociedade: como rainha, seu dever é zelar pelo seu povo. Muitas vezes isso vai contra seus desejos e vontades, mas nem por isso ela se deixa abater ou entrega o jogo, encontrando meio-termos ou assumindo riscos que outras pessoas talvez não assumissem. Emma não é aquela que já chega resolvendo as pendencias - atitude aceita e possível somente para os homens - mas, à sua maneira e dentro de suas limitações, é forte, determinada e, acima de tudo, ousada. No entanto essa ousadia pode ser a responsável por sua ruína.

[...] disse ela em voz baixa - É apenas conjectura. O que devemos fazer? Nos escondermos atrás das muralhas da cidade durante os próximos dois meses com medo dos dinamarqueses?
- Não, minha senhora - retrucou Athelstan. - Mas, se vemos nuvens negras e relâmpagos no céu, não subimos na árvore mais alta que encontramos para assistir à chegada da tempestade! A senhora não deve ir a Exeter nem a qualquer cidade que se encontre perto de um exército dinamarquês!
Ela suspirou, exasperada com a veemência dele.
- Já fiz meus preparativos, meu senhor, e vou a Exeter. (Pág 198/199).

Seu marido é cruel, inseguro, infiel, desrespeitoso, ignorante e não se importa com ela, porém não aceitaria que Emma fosse infiel também e, ao se apaixonar por Athelstan ambos começam a correr riscos absurdos. Este amor impossível leva a história para outro nível. Agora não existe apenas o risco político (Emma é rainha, é nova e é estrangeira, muita gente da corte não a aceita) ou territorial (Vikings querendo invadir o território) e sim o emocional. Fiquei encantada com o forte conteúdo histórico do livro, com o retrato da sociedade da época, os interesses políticos e o julgamento de "certo e errado" feito por seus personagens. O retrato da figura feminina também é tão real que quase me virou o estômago em determinados momentos, mas até mesmo isso fez com que eu gostasse tanto da obra, pois a autora não quis esconder ou mascarar os costumes e valores da época.

Ela o fulminava com os olhos, e mantinha o queixo empinado e altivo. A garota o deixava perplexo. Era apenas um instrumento sem poder, primeiro nas mãos do irmão, agora nas suas, mas parecia não entender o tamanho da sua fraqueza. (Pág 157).

Torci demais para que este casal acontecesse de alguma forma, esperei por reviravoltas, mortes, acidentes, qualquer coisa que facilitasse a vida de Athelstan e Emma e me desse uma pontinha de esperança que este casal finalmente acontecesse. Cheguei nas últimas páginas com o coração nas mãos e me deparei com um desfecho tão absurdamente surpreendente e bom que nem sei mais o que pensar, exceto que preciso da sua continuação. Foi triste, cruel e doloroso, mas tão belo e real quanto tinha que ser. E ao ler os agradecimentos descobri que a rainha Emma realmente existiu, outro ponto super importante. Não que esta seja a real história dela, mas foi bom saber que além do contexto histórico, o livro carrega também personagens de certa forma reais. Esse é o tipo de informação que faz toda a diferença e, acredito, devia se localizar logo na capa.

O que quer que estivesse por vor, ele iria enfrentar ao lado de Emma, ou morrer tentando chegar até ela. (Pág 209).

Sobre a autora:


Patricia Bracewell cresceu na Califórnia, onde lecionou Literatura e Redação antes de embarcar na carreira de escritora. É mestre em literatura inglesa e sua pesquisa histórica a levou a lugares como Grã-Bretanha, França e Dinamarca. Tem dois filhos adultos e mora com o marido em Oakland, na Califórnia.

Outras informações:
Título: A rainha Normanda.
Autora: Patricia Bracewell.
Editora: Arqueiro.
História: 5/5.
Narrativa: 4/5.