terça-feira, 25 de agosto de 2015

Antes de partir desta pra uma melhor.

Voltando por aqui com uma resenha...
Estou com tanta coisa atrasada que até assusta, mas nas últimas semanas minha vida foi uma correria muito grande, então acabei acumulando postagens. Vou tentar me organizar novamente.




Silver tem mais de quarenta anos, uma filha adolescente que aparece grávida (Casey), uma ex-mulher que está para se casar novamente (Denise), dois amigos complicados e levemente pirados e muitos erros nas costas.
Como se não fosse o bastante, o atual noivo da sua ex-mulher, que coincidentemente é médico (Rich), o diagnosticou com um problema no coração, que pode matá-lo a qualquer instante. Sua única chance é fazer uma cirurgia, coisa que Silver rejeita de forma veemente.
Ele não é uma pessoa ruim, mas tem tendência a fazer escolhas erradas, por isso perdeu o casamento, a casa, a filha... Ele sente que não tem motivos para continuar insistindo no erro de viver, então não tem necessidade de fazer a cirurgia.
Silver quer apenas viver o tempo que lhe resta de forma agradável, tentando fazer o melhor para si e para os outros. Quer reconquistar a filha, ajudá-la a lidar com a gravidez e ajeitar alguns dos erros que cometeu, mas será que todos vão entendê-lo? E ele precisa mesmo resolver tudo isso ou apenas curtir seus últimos dias sem se preocupar com o que vai deixar para trás?

- Ei, Silver? Que merda é essa?
Antes mesmo de abrir os olhos, ele pensa na frequência com que as pessoas dizem isso na sua presença. Que merda é essa? Parece que essas quatro palavras o acompanharam ao longo de sua vida adulta. Elas devem ser gravadas em sua lápide, pensa ele, um epitáfio adequado para resumir uma vida que, de vários pontos de vista, não fez sentido algum.
DREW SILVER
1964-2014
QUE MERDA É ESSA?
Sim. Isso resumiria tudo. (Pág 168).

Alguém aí já ouviu falar que "Desgraça pouca é bobagem"? Certamente o Jonathan Tropper já ouviu e decidiu transformar essa frase na filosofia de vida de seus protagonistas. O autor simplesmente não economiza ao colocar seus personagens em situações cada vez mais difíceis e constrangedoras, onde a cada piscada dada ou palavra falada, a coisa só consegue piorar (até quando você não acha que tem como isso acontecer). Seria de partir o coração e te deixar deprimida se a linha de raciocínio usada por ele não fosse tão eloquente e cômica. Em meio a tanta tristeza, e contrariando qualquer lógica, você se percebe rindo e não chorando. É muito lindo.

O protagonista da vez é Silver, um homem com os seus quarenta e tantos anos e um longo histórico de erros e inconsequências. Por mais genuíno que seja seu pensamento ou ação, ele inevitavelmente acaba ferrando com tudo em que se envolve. Ele se sente mal por isso, como qualquer outra pessoa normal se sentiria, mas não sabe bem como fazer o resultado final de suas ações se transformar em algo bom. Essa constante luta do personagem é agravada pelo fato de recentemente, sem perceber, ele falar em voz alta o que está pensando (isso acontece por conta da sua doença no coração). Se antes ele já se metia em encrenca por suas falas, imaginem agora que ele não consegue filtrar o que deve ou não dizer! (E uma das coisas mais interessantes e que esses momentos são escritos como narrativa e não fala então só descobrimos que aquilo foi mesmo dito em voz alta no mesmo momento que Silver: quando a confusão decorrente daquelas palavras já se instaurou).

Dividindo a narrativa com ele existe Casey, sua filha adolescente e que se descobre grávida; e Denise, sua ex-mulher e atual noiva de Rich, o médico que diagnosticou o problema no coração de Silver. Alguns outros personagens acabam narrando algo aqui e ali, porém os mais comuns são Silver, Casey e Denise, os personagens centrais e responsáveis por todo o desenrolar da trama e que fizeram com que eu me envolvesse bastante, pois pude sentir como Silver decepcionou Denise, como os dois tumultuam a vida de Casey e como Silver se sente um lixo por tudo isso. Mais uma vez Jonathan Tropper acerta ao retratar dramas familiares verdadeiros. Seu talento ao criar famílias totalmente disfuncionais e reais é maravilhoso, não tem como negar.

Como já é de praxe em livros do autor, existe muita reflexão e ótimas lições de vida disfarçadas de conversas ou pensamentos aleatórios. Você vai sim levar um tapa na cara aqui e ali, lide com isso da melhor forma possível e, o mais importante é: se deixe levar por mais essa história emocionante sobre família, solidão, escolhas, perdão, traumas e como a vida acontece mesmo quando não estamos preparados para ela. Não é o melhor livro do Jonathan, mas como ele é um autor estupidamente bom, isso quer dizer que mesmo assim você vai gostar, sorrir, chorar e virar a última página esperando que, milagrosamente, apareçam novas linhas escritas e você não seja forçado a se afastar daquela história.
[...] Silver tem um longo e vasto histórico de ignorar o óbvio até ser tarde demais; na verdade, fez disso quase sua religião. (Pág 183).
Sobre o autor:

Jonathan Tropper é o autor de "Como Falar com um viúvo" (Lançado no Brasil pela editora SEXTANTE), "Everything Chage", "The Book of Joe", "Plan B" e, mais recentemente, "This Is Where I Leave You". Ele vive com sua família em Westchester, Nova York, onde ensina a escrever no Manhattanville College. Ele está adaptando "This Is Where I Leave You" como um longa-metragem para a Warner Brothers Studios.

Outras obras dele:


Outras informações:
Compare o preço: Buscapé.
Editora: Arqueiro.
História: 4/5.
Narrativa: 4/5.