terça-feira, 22 de julho de 2014

A máquina de contar histórias.

Semana passada consegui ler vários livros que estavam na fila aqui em casa, então agora só preciso começar a resenhar todos eles (mas cadê o tempo?), então como consegui adiantar uma delas, eis aqui a resenha de mais um nacional de arrasar!

Vinícius Becker é um autor brasileiro mundialmente conhecido. Com livros figurando nas listas de mais vendidos, personagens cativantes e histórias maravilhosas, Vinícius busca cada vez mais sucesso e fama.
E, no momento em que lançava seu mais novo livro, A máquina de contar histórias, sua esposa, que sofria de leucemia há anos, veio a falecer em um quarto de hospital, sem o marido ao lado.
Abalado pela perda da mulher, Vinícius retorna para casa, onde encontra suas duas filhas.
Valentina, uma adolescente de 16 anos que parece odiá-lo, e Vida, uma garotinha doce de apenas quatro anos que ainda não entendeu a grandiosidade de tudo o que aconteceu.
Vinícius percebe então que em sua busca por ser o autor perfeito acabou deixando sua família de lado e agora está sozinho. Mas decidido a reconquistar o amor das filhas, mesmo que isso seja uma tarefa árdua...

Nunca havia lido nada do Gomyde, apesar de sempre ter lido resenhas maravilhadas sobre suas obras, mas sempre tive certa vontade de conhecer algo do autor e poder dar minha opinião sobre sua história e agora que finalmente li, posso dizer que ela não se difere muito das outras, afinal também fui conquistada pelo autor e com certeza vou procurar seus outros livros para tirar o atraso e me deliciar com todas as histórias que ele já escreveu ou irá escrever, pois a leveza em suas palavras é incrível, assim como sua habilidade ao criar os personagens mais intensos possíveis, mesmo que nesta obra (afinal não sei sobre as outras) eu tivesse a sensação que conhecia seu final antes mesmo de abrir o livro. O que não impede que o leitor se encante com tudo o que acontece entre a primeira e a última página.

Vinícius Becker é um personagem intenso e muito humano que me deixou em um conflito interno. Apesar de saber o tempo inteiro que ele havia errado, e muito, com a ex-esposa e com as filhas e merecia cada resposta atravessada que Valentina lhe dirigia, não consegui o detestar por completo e torci para que ele ao final conseguisse reconquistar as meninas, que também são duas protagonistas maravilhosamente bem construídas. Valentina e Vida são fortes, intensas e encantadoras, cada uma à sua maneira e me agradaram muito. Principalmente Valentina, a melhor personagem de todo o livro. Achei que a adolescente foi a que mais sofreu, a que mais externou sua dor, a que mais cresceu, a que mais me emocionou e a que mais merecia ser feliz.

A narrativa, sempre em terceira pessoa, também contribuiu muito para que me aproximasse tanto de Vinícius, Vida e Valentina. De forma simples, concisa e coerente, o autor conduziu a história dos três com maestria, desenvolveu os personagens de acordo com o proposto no início, acrescentou informações somente quando eram necessárias, não exagerou no drama (ainda que a história, de certa forma, seja um drama) e soube exatamente os momentos em que o leitor iria se emocionar e os desenvolveu de maneira ainda mais bela. Algo de quem sabe o que está fazendo, não uma "sorte de principiante" ou coisa assim. Confiança foi algo que notei bastante no livro: o autor acreditava no que estava escrevendo e isso é lindo!

Apesar de existir o sentimento de identificação com o personagem, afinal sempre acabamos compartilhando algum sentimento ou situação, não acredito que o autor foi realmente fiel à realidade ao finalizar a obra, pois pela grandiosidade do "problema" de Vinícius acredito que seria necessário um pouco mais para que as coisas voltassem aos eixos na vida real, mas dada as circunstâncias da história e, por ser um livro relativamente pequeno (menos de 200 páginas), o desfecho criado foi lindo, digno e sem pontas soltas. Uma obra que emocionou, envolveu, agradou, ensinou (pois acabei aprendendo um pouco nos erros de Vinícius) e deixou saudade depois da última página ter sido virada. Super recomendo para quem busca uma leitura simples, doce e emocionante.

Se aquilo fosse uma de suas tramas, ele conseguiria fazer os ponteiros dos relógios andarem mais lentos ou mais rápidos. Como criador, ele teria nas mãos o poder de ligar ou desligar os semáforos. Poderia fazer o carro voar, um helicóptero aparecer do nada e ele próprio, personagem-autor, pilotá-lo sem nunca ter feito aquilo antes. Ressuscitaria as pessoas, brincaria de ser Deus. Ali, vida real, era impossível subverter a lógica precisa dos fatos. (Pág 18).
Editora: Novo Conceito.
História: 4/5.
Narrativa: 5/5.