quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

Ilusões aleatórias #1: Literatura nacional.

Já tem um tempo que venho pensando em escrever alguns textos com minhas opiniões sobre assuntos ligados aos livros, mas não necessariamente resenhas aqui no blog, porém ainda não tinha encontrado algo que me deixasse tão determinada a sentar e escrever. Até me deparar com a reportagem "Ser escritor no Brasil é a mais patética das profissões", publicada no The New York Times e que pode ser lida no Portal R7.







Quando estava no Ensino Fundamental, me aventurei diversas vezes com os Karas de Pedro Bandeira, participei de corridas contra o tempo com os personagens de Marcos Rey e me encantei com as criações de Ruth Rocha, porém depois de certo tempo me tornei uma daquelas leitoras que adquiria e lia livros de autores internacionais com uma ferocidade assustadora, mas quando as palavras “Literatura” e “Nacional” se juntavam, eu torcia a cara e mudava o assunto da conversa. O motivo? Leitura obrigatória do Ensino Médio.

Não existia mais o drama e a aventura da vida de Pimpa (Sozinha no mundo - Marcos Rey), não encontrei mais Miguel, Crânio, Calú, Magrí e Chumbinho lutando contra o Doutor Q.I. (A droga da obediência – Pedro Bandeira) ou Beatriz e Pedro com seus problemas para adaptarem-se à nova família (De repente dá certo – Ruth Rocha). Muito pelo contrário, fui apresentada à Laços de família, de Clarice Lispector, que após muito sofrimento terminei de ler e foi o responsável por me deixar de ressaca por mais de três meses.

Não estou dizendo que Machado de Assis, Clarice Lispector ou qualquer outro clássico nacional não me agrada. Anos antes, em questão de horas, quase me desidratei ao acompanhar o romance de Carolina e Augusto (A Moreninha – Joaquim Manuel de Macedo), prova de que posso ter lido as outras obras em um momento inadequado na minha vida. Pode ser que hoje, se eu colocar as mãos em Laços de família, possa vir a amar o livro inteiro ou só o detestar ainda mais, porém ser um livro nacional, internacional, clássico ou contemporâneo não muda minha opinião sobre a obra.

No entanto, só fui descobrir isso mais para frente, quando meu trauma com nacionais (que não fossem os já conhecidos autores de infanto-juvenil) parecia ter passado, já no final segundo ano do ensino médio e com o Ilusões Escritas criado. Foi quando me arrisquei a iniciar outra obra nacional. Ou melhor, duas obras. Em dois dias, concluí a leitura de Nas trevas e na Luz I e II (Gisele Carmona), chorei horrores, quis brigar com a Gisele por conta do final da história, mas também quis abraçá-la e dizer que tinha amado seus livros com todo meu coração.

Alguns dias depois, já estava com a história de Anny em mãos (na época o livro era chamado Xadrez, mas atualmente é Jogando xadrez com os anjos – Fabiane Ribeiro), estava me desfazendo em lágrimas novamente, sorrindo como uma criança que acabou de ganhar um presente muito desejado, sentindo emoções tão fortes e tão intensas que não parecia estar lendo um livro e sim vivendo tudo aquilo.

Desde então, os nacionais dividem espaço com os internacionais em minhas estantes e em meu coração, convivendo em perfeita harmonia. Então por que não podem fazer o mesmo nas vitrines das livrarias ou nas mesas dos editores? Talvez livreiros e editores estejam passando, agora, pela mesma fase que passei anos atrás quando percebi que literatura nacional não se resume a clássicos.

Estou feliz por ter superado esta ideia e poder presenciar a ascensão de tantos autores talentosos que avançam, mesmo que com pequenos passos, para um reconhecimento nacional e internacional. Não sou a única a notar a mudança, os leitores estão percebendo, as editoras estão abraçando a causa e aos poucos estão aparecendo os novos sucessos nacionais.

Claro, não é em um piscar de olhos que teremos uma Meg Cabot ou Sophie Kinsella, mas querem saber? Não gosto de comparar, porém acredito fielmente que Paula Pimenta e Carina Rissi são fortes candidatas. Carina, inclusive, já não está trabalhando na adaptação de Perdida? Aguardemos as cenas desta produção, literalmente.

Então não venham me dizer que ser escritor no Brasil é algo patético ou coisa do tipo, pois não vou concordar. O que acho patético é alguém querer generalizar por causa de um caso específico em que o livro não fez sucesso ou deu dinheiro, pois existem fatores para serem analisados, como por exemplo a divulgação e o público-alvo, que variam de autor para autor e de obra para obra. Não se deve usar um único exemplo para tachar toda uma nação.

Os caminhos para a publicação são difíceis, os obstáculos são gigantes, a concorrência é acirrada? Sim, sim, e sim, e digo isso por acompanhar a carreira de diversas autoras e comemorar com elas cada pequena vitória como se fosse o recebimento de um Óscar, pois é. Um Óscar destinado a quem não desistir dos seus sonhos, que chorou, se emocionou, acreditou, correu atrás, não deu ouvidos para reportagens/noticias/falas negativas como esta e simplesmente buscou seus objetivos e contribuiu para fazer diversas pessoas mais felizes. Afinal, quem nunca fechou um livro se sentindo mais leve, mais feliz ou realizado do que quando o abriu?

Então... Samanta Holtz, Vanessa de Cássia, Adriana Brazil, Marina Carvalho, Gisele Carmona, Fabiane Ribeiro, Tammy Luciano, Leila Krüger, Natália Marques, Iris Figueiredo, Paula Pimenta, Carina Rissi, Fernanda Saads, Jean Postai, Leila Rego e tantos outros que não conseguirei citar...

Deixo aqui meu eterno muito obrigado pela coragem e determinação em lutar e vencer todas as barreiras existentes e ao final me proporcionar a oportunidade de me deliciar com todas as obras produzidas neste Brasil! Vocês não são patéticos, vocês são vencedores e estão construindo e mudando muito mais histórias de vida do que possam imaginar!