sábado, 28 de fevereiro de 2015

Coração de tinta.


Aos quarenta e cinco do segundo tempo, eis que consegui terminar minha leitura de Fevereiro do Desafio Literário Skoob 2015!

Cheguei a pensar que não conseguiria postar a resenha antes de Fevereiro acabar, mas deu tempo, então vamos logo saber o que eu achei do livro? Já adianto que eu era doida para ler esta obra!
Todo leitor já quis poder entrar em uma história ou então poder retirar alguém do livro, não é? Meggie certamente sim.
Ela tem doze anos e cresceu em meio aos livros, sempre acompanhada de boas histórias e páginas e mais páginas de aventuras, pois a tia de sua mãe, Elinor, é uma colecionadora de livros e Mo, seu pai, trabalha restaurando livros velhos, além de também amar ler.
Mas por mais que ela insista ele não lê em voz alta para Meggie, como os pais geralmente fazem.
E ela só descobriu o motivo disso quando um homem chamado Dedo Empoeirado apareceu repentinamente em sua casa no meio de uma noite e mudou toda a vida da pequena Meggie.
Se antes ela amava viver aventuras nas páginas de um livro, agora sua vida virou uma onde vilões impiedosos possuem nomes estranhos como Capricórnio, Basta ou Nariz Chato. Personagens começam a sair de seus livros e povoar a realidade de Meggie, trazendo consigo muita da magia das palavras, mas também seus perigos...
Conheci a história de "Coração de tinta" quando uma amiga me emprestou um DVD com o mesmo título dizendo ser uma história maravilhosa. Assisti ao filme e concordei com ela, por isso saí revirando os "extras" do DVD e eis que encontrei a informação preciosa... O filme era uma adaptação literária. Pirei. Procurei no Skoob, li resenhas e senti o coração acelerar todas as vezes que me vi meramente perto de um exemplar deste livro, até que finalmente comprei a trilogia inteira e quase não me aguentei esperando o mês de fevereiro (ele foi o livro que eu escolhi para o mês da Fantasia no Desafio Literário Skoob 2015). Então eu comecei a leitura e empaquei. Sério. Levei mais de duas semanas para ler as 100 primeiras páginas (e li outros três livros enquanto isso), tamanho meu desanimo. Mas depois disso... OMG, ainda bem que tenho o resto da trilogia!

Desde o começo, o que mais me encantou, foi a relação dos personagens com os livros. É tanto amor, tanta veneração... Meggie, Mo e Elinor dão valor às palavras, saboreiam-as de verdade, conhecem seu poder e se encantam com as histórias. O carinho que todos eles demonstram com os livros... Gente, que coisa mais linda! É emocionante e marquei várias passagens onde eles demonstram o quanto as palavras são importantes para eles. E talvez seja por isso que eu tenha gostado tanto de Elinor, a mais apaixonada por histórias e também a mais estressada. Suas respostas são maravilhosas, ela não leva desaforo para casa, não pensa duas vezes antes de sair xingando e, sério, não mexam com os livros dessa mulher. Ela fica insana quando alguém se atreve a chegar perto de suas relíquias. Elinor é a melhor personagem entre os mocinhos, e disputa o posto de melhor pessoa de toda a história com Basta, o melhor personagem entre os vilões. Ele não é o mais perigoso nem o mais temido, mas sabe usar uma navalha como ninguém e foi construído com muita maestria, cheio de nuances e segredos. Elinor e Basta são adoráveis (de formas diferentes) e os que mais me cativaram, apesar de não serem exatamente os protagonistas (papel de Mo e Meggie, dois personagens muito bons, mas não tanto quanto os outros).

A história no começo foi sem graça, mas depois foi ficando cada vez mais interessante e terminei a leitura com o coração acelerado (mesmo já sabendo como ela terminaria, por conta do filme). Não é um enredo cheio de reviravoltas, mas o problema central é muito grande e requer muito desmembramento para ser resolvido. As coisas acontecem aos pouquinhos, cada detalhe sendo resolvido de uma vez. E o melhor é que a narrativa é em terceira pessoa e o narrador acompanha todos os personagens, mesmo quando eles estão separados uns dos outros, então sempre temos uma visão ampla das coisas, sabendo o que todos eles estão fazendo e pensando ao mesmo tempo. E como lidar com a ansiedade por saber se algum daqueles planos mirabolantes iria funcionar? Gente... É tão incrível! Meggie e Mo possuem um dom maravilhoso (que eu super queria ter também!), mas ele veio acompanhado de muitos problemas e perigos, por isso a história se torna complexa, com muitas informações e momentos tensos. Nada de adrenalina da primeira à última página e sim uma tensão crescente e muito fundamento.

O começo foi meio parado, a narrativa estava detalhista, a história possuía perguntas demais e respostas de menos e o enredo parecia não andar. Toda vez que tentava retomar a leitura, ficava entediada e deixava o livro para lá mais uma vez. Prossegui assim por pouco mais de 100 páginas e então a obra me ganhou. Fui sequestrada para para dentro do livro (assim como acontece com os personagens na história) e foi difícil sair quando cheguei à última página. Meggie, Mo, Dedo Empoeirado, Basta e Elinor são difíceis de esquecer e fáceis de se apegar. Sinto-me feliz em saber que posso retornar ao mundo deles com as duas sequências que tenho na estante e queria fazer isso agora mesmo. Então nem preciso dizer o quanto eu indico o livro, não é? Mesmo que no começo você tenha dificuldades, assim como eu, não desista; As páginas seguintes contam uma história maravilhosa e, se você é um amante dos livros e das palavras, você vai querer conhecer esta.

PS: Outra coisa muito linda é que no começo de cada capítulo existe um trechinho de algum outro livro, que mais ou menos dá uma ideia do que irá acontecer nas páginas seguintes. Sabe aquela coisa de um livro te indicar outro? Pois bem, Coração de tinta me indicou uns 10.

PS 2: O filme tem bastante coisa diferente do livro, mas os dois são ótimos. (E eu prefiro o livro).

Por que os adultos achavam que as crianças suportavam melhor os segredos do que a verdade? Será que não faziam ideia das histórias tenebrosas que elas inventavam para explicar os mistérios? (Pág 122).

Elinor foi a primeira a falar novamente, mas soou quase como se ela falasse consigo mesma.
- Meu Deus do céu - ela murmurou enquanto descalçava os sapatos - Quando penso em quantas vezes desejei estar dentro de um dos meus livros favoritos! Mas o bom dos livros é justamente isto, podemos fechá-los quando quisermos. (Pág 133).

Sabe, acontece uma coisa curiosa com os escritores. A maior parte das pessoas não consegue imaginar que os livros são escritos por pessoas iguais a elas. Normalmente elas supõem que os escritores já estão mortos, e quase ninguém imagina que possa cruzar com um deles na rua ou no supermercado. As pessoas conhecem as suas histórias, mas não os seus nomes, e muito menos o rosto. (Pág 206).


Trailer da adaptação:



Sobre a autora:

Cornelia Funke nasceu em 1958 na cidade alemã de Dorsten, filha de Harlz-Heinz and Helmi Funke.
Quando criança, queria se tornar astronauta e ou uma piloto de avião, mas depois decidiu estudar pedagogia na Universidade de Hamburgo. Depois de terminar seus estudos, Funke trabalhou durante três anos como assistente social, se focalizando em crianças necessitadas.
Ela ganhava algum dinheiro ilustrando livros, mas rapidamente começou a escrever suas próprias estórias, inspirada naquelas com que ela havia agradado as crianças carentes com quem tinha trabalhado. Durante o final dos anos 80 e 90, Funke se estabeleceu na Alemanha com dois grupos de crianças, o que a inspirou a escrevera série de livros Gespensterjäger e Wilde Hühner.

Outras obras dela:

Sangue de tinta.
Morte de tinta.

Outras informações:
Compare o preço: Buscapé.
Autora: Cornelia Funke.
Editora: Seguinte.
História: 5/5.
Narrativa: 4/5.