quarta-feira, 28 de agosto de 2013

Todo dia.

Own, gente! Hoje é meu aniversário e resolvi colocar no ar a resenha de um livro que eu amei. Vamos ver?

"A" tem uma vida incomum.
Ele não tem um corpo próprio ou uma forma física. Todo dia ele acorda em um corpo diferente, com uma vida diferente da anterior, em algum lugar também diferente.
Por mudar todo dia, em sua vida não existe relações afetivas de longa duração. Ele não se permite criar vínculos com as pessoas que no dia seguinte podem estar há quilômetros de distância. Não vê sentido algum em se apegar a alguém que não estará com ele amanhã.
Tenta ao máximo não interferir na vida da pessoa, agir normalmente, sem levantar suspeitas de que existe algo diferente ou errado com ela. Ele se mantém no anonimato.
O que faz seus dias serem tão iguais (acordar, descobrir quem é e onde está) são as mesmas coisas que fazem com que sejam tão diferentes entre si e tudo continuaria assim, nesta interminável sequencia de dias diferentes e iguais em vidas distintas se um belo dia ele não tivesse se apaixonado.
Mas ele se apaixonou, e tornar o sentimento recíproco é o grande dilema, afinal como Rhiannon (a garota por quem ele se apaixonou) poderá retribuir o sentimento se a cada dia ele está em um corpo diferente, podendo ou não estar por perto? Como eles podem fazer isso dar certo?

Comecei esta leitura com as expectativas mais altas possíveis, já tinha tido uma experiência linda com a escrita do David em "Will & Will" e somando a isso o fato da sinopse ser extremamente intrigante afinal quem é que troca de corpo todos os dias?, eu ansiava muito por este lançamento. Não me decepcionei. Mais uma vez encontrei uma narrativa sucinta, delicada e envolvente que deixou o livro viciante ao ponto de não querer deixá-lo de lado em momento algum.

Sentimentos, emoções, questões quase polêmicas e princípios foram maravilhosamente bem trabalhados e descritos. Senti e entendi tudo o que se passava com os personagens, mas esse não foi o ponto mais forte do livro, foi apenas um dos que contribuíram para torná-lo tão incrível. O que foi decisivo, para mim, foi a forma como o autor trabalhou a questão de não ter escolhas. "A" não teve a oportunidade de escolher entre viver sempre uma vida como as outras pessoas ou vaguear diariamente por aí, cada dia em um lugar diferente. Ele não teve alternativa. Ninguém lhe perguntou nada. É algo além do controle e desejo dele, ele é simplesmente obrigado a conviver com isso e pronto.

Acho que todo mundo já se sentiu assim em algum momento, mas descrever este sentimento não é tão simples, e poucas pessoas tem a capacidade de fazer isso de forma verdadeira e profunda. David é uma delas. Ele consegue fazer isso sem tornar o livro triste ou melancólico. Sabe explorar na medida certa, sem perder o foco da história, que acredito, não é este, e sim o "se sentir perdido" da adolescência, afinal, "A" não se encaixa em lugar algum, está constantemente buscando seu lugar no mundo. Mesmo que não seja exatamente estando em uma vida por dia, o sentimento acaba sendo o mesmo e a analogia é linda.

Me mantive emocionada o livro inteiro, torci desesperadamente para as coisas darem certo entre Rhiannon e "A", quis entender as particularidades de cada vida que "A" habitou, encontrei passagens tão marcantes que me fizeram parar a leitura e ficar refletindo sobre a verdade daquelas palavras e eu ADORO quando o livro faz isso comigo! Essas minhas pausas para reflexão aconteceram por "A" ter uma linha de raciocínio inteligente e única que tornou tudo muito mais fácil de ser entendido, simplificou questões polêmicas e eu definitivamente queria pensar como ele em alguns momentos. Só não sei ainda se eu amei ou detestei o final. Já tem um tempo que concluí a leitura, e sempre que me perguntam sobre o livro eu começo a tietar a obra inteira, dizendo como ela é linda e maravilhosa, mas pensar sobre o final me deixa com cara de paisagem. Ainda estou em conflito interno decidindo sobre meu amor ou ódio pelas últimas páginas, o que não muda minha opinião de que todo mundo devia ler. 
Se tem uma coisa que aprendi, é isso: todos nós queremos que tudo fique bem. Nem mesmo desejamos que as coisas sejam fantásticas, maravilhosas ou extraordinárias. Satisfeitos, aceitamos o bem, porque, na maior parte do tempo, bem é suficiente. (Pág 11).

Título: Todo dia.
Editora: Galera.
História: 5/5.
Narrativa: 5/5.