quarta-feira, 1 de junho de 2016

Cartas de amor aos mortos.

Estão gostando de ver o blog novamente movimentado? Estou adorando ter tempo de ler e resenhar aqui para vocês. É o que eu gosto de fazer. <3




Laurel começou o ensino médio agora e não sabe muito bem o que fazer com isso. Acostumada a viver às sombras de May, sua irmã mais velha, e perto da mãe, a menina tem um choque quando vê tudo isso mudar.
Os pais se separaram, May faleceu e a mãe decidiu ir para um retiro. Laurel trocou de escola e passou a morar alguns dias com o pai e outros com uma tia.
Na escola nova, a professora pede que ela faça uma carta, mas para alguém que já morreu. Laurel faz o trabalho, mas não consegue entregar e nem parar de escrever.
Nas cartas a garota encontra uma forma de se expressar sem ser julgada e, aos poucos, vai narrando sua nova vida para pessoas que já não estão mais por aqui...


[...] talvez amadurecer signifique que você não precisa ser uma personagem seguindo um roteiro. É saber que você pode ser a autora. (Pág 312).

Eis aqui o livro que me conquistou pela capa e depois pelo título. Sequer li a sinopse antes de comprar e dar início à leitura. A obra já tinha me ganhado e não havia qualquer questionamento a ser feito. Agora que acompanhei toda a história de Laurel estou ainda mais apaixonada e querendo que a autora publique mais uns noventa e nove livros. Sua escrita é simples, comovente e emocionante e, aliada à uma história cruel e cativante, fica impossível não se encantar e querer entrar cada vez mais naquele mundo, naquela vida.

Todos nós queremos ser alguém, mas temos medo de descobrir que não somos tão bons quanto todo mundo imagina que somos. (Pág 148/149).

Antes de mais nada é preciso dizer que este é um livro pesado. Não daqueles que te faz chorar o tempo todo ou possui atrocidades em todas as páginas, e sim como uma bela flor desabrochando que, quando você vai pegar, acaba sendo atingida por algum espinho que nem tinha visto antes. A crueldade deste livro é singela e rasteira, você não percebe logo de cara e, quando o faz, fica sensibilizado e triste. A autora relata coisas complicadas, trabalha muito o psicológico dos personagens e, no caminho, distribui dor, mágoas e fraquezas.

É triste quando todo mundo sabe quem você é, mas ninguém te conhece. Imagino que você tenha se sentido assim. As pessoas veem o que querem. Usar calça de couro e ter um belo corpo, beber muito vinho caro, ter uma voz que soa rouca e seca, essas características formam a imagem que as pessoas têm de você. (Pág 210).

Não apenas Laurel é a complicada e com vários problemas pessoais ou psicológicos. Todo o quadro de personagens é complexo. O interesse amoroso dela é atormentado pelo passado e possui uma família disfuncional. Suas amigas são inseguras, possuem relações complicadas e estão perdidas em suas próprias vidas. Sua tia é uma religiosa convicta que não percebe muito o que se passa à sua volta. Seu pai se fechou para o mundo depois da morte da filha mais velha. E a mãe decidiu ir embora, deixando a dor para trás. Percebe o quanto tudo isso está emaranhado? O quanto a autora explora o psicológico de todos eles?

Às vezes nosso corpo devia mostrar mais as coisas que nos machucam, as histórias que mantemos escondidas dentro de nós. (Pág 218).

Por ter uma história tão densa, seria fácil imaginar que a autora não conseguiria abordar tudo usando apenas as cartas que Laurel escreve para as pessoas que já morreram, mas acho que na verdade este é o diferencial. Sabendo que ninguém iria ler aquelas palavras a adolescente consegue se expressar com mais clareza e colocar todos os seus sentimentos no papel. Um dos segredos de Laurel eu já imaginava desde a primeira página, pois é algo que estou vendo bastante nas minhas últimas leituras, porém isso não tira em nada o brilho da história. O que mais eu preciso dizer? Ah, sim, que estou morrendo de medo de não conseguir um autógrafo da autora na Bienal.

[...] ninguém pode salvar ninguém, não de verdade. Não de si mesmo. Você pega no sono no pé da montanha, e o lobo desce. E você espera ser acordada por alguém. Ou espera que alguém o espante. Ou atire nele. Mas, quando você se dá conta de que o lobo está dentro de você, é quando entende. Não pode fugir dele. E ninguém que ama você consegue matar o lobo, porque ele faz parte de você. As pessoas veem seu rosto nele. E não vão atirar. (Pág 235).

Vídeo da autora para os leitores brasileiros:




Sobre a autora:


É formada pela Universidade de Chicago e mestre pela Iowa Writers’ Workshop. Ela cresceu em Albuquerque, no Novo México, onde passou incontáveis tardes de verão fazendo poções mágicas, lutando contra bruxas más e se divertindo com outras brincadeiras inventadas, que provavelmente contribuíram para que se tornasse uma contadora de histórias. Atualmente vive em Santa Monica, na Califórnia, onde trabalha na indústria cinematográfica e escreve seu segundo romance.

Outras informações:
Compare o preço: Buscapé.
Título: Cartas de amor aos mortos.
Autora: Ava Dellaira.
Editora: Seguinte.
História: 5/5.
Narrativa: 5/5.