terça-feira, 9 de junho de 2015

A playlist da minha vida.

Estou há tanto tempo tentando organizar meus sentimentos e escrever esta resenha...



Elise tem quinze anos e não se encaixa na escola, por isso decide fazer um desafio pessoal: se transformar em uma pessoa legal. O plano não funcionou e a sua vida social, que já era para lá de ruim, conseguiu ficar ainda pior.
E depois de um dia para lá de infernal na escola, Elise simplesmente saí andando durante a madrugada, para caminhar e tentar espairecer um pouco.
Neste seu passeio noturno, acaba encontrando um galpão tocando músicas altas: uma festa.
Elise não tinha a mínima ideia disso, mas ao adentrar aquele espaço, ela na verdade estava indo de encontro a algo que mudaria sua vida por completo.
Ali dentro Elise encontrou amigos, descobriu um talento, encontrou sua salvação. Mas manter isso tudo em segredo é uma boa ideia? E o que fazer caso o pessoal da escola ou sua família descubra sobre seus passeios noturnos e coloquem tudo a perder, como sempre fazem?
Você acha que é fácil mudar seu jeito de ser.
Você acha que é fácil, mas não é.
O que você acha que é preciso fazer para se reinventar como uma pessoa totalmente nova, uma pessoa coerente, que pertence a algum lugar? Você mudaria as suas roupas, o seu cabelo, o seu rosto? Vá em frente, então. Faça isso. Fure as orelhas, corte o cabelo, compre uma bolsa nova. Mesmo assim eles verão quem você é. Eles verão você, a menina que continua assustada, que continua se fingindo de esperta, que está sempre um passo atrás, que continua sendo - sempre - a errada. Mude o que quiser, mas isso você não pode mudar.
Eu sei disso porque tentei. (Pág 09).
Esse é o problema da vida. Nunca há tempo suficiente para olhar para o teto e descobrir o que está rolando. (Pág 57).

Este é um dos meus livros favoritos e um dos mais lindos que já li em toda minha vida de Bookaholic.

Ok, dito isso, posso começar a explicar porquê ele é tão perfeito assim: protagonista maravilhosa, narrativa encantadora, história surpreendente, final arrebatador e muita, muita música. Pois é... Tudo isso em um livro só. Então é claro que não teve conversa ou meio termo, Leila Sales chegou na minha estante para ficar (quero mais livros dela), me fez derramar lágrimas e mais lágrimas, me encantou com esta história de superação e balançou as estruturas do meu, já frágil, coraçãozinho com tendências a se encantar com protagonistas tidos como problemáticos, incompreendidos, depressivos e/ou excluídos.

E sim, a doce Elise é tudo isso e muito mais. Logo que ela começou a explicar sua vida notei uma grande emoção vindo da personagem. Sabe quando a pessoa simplesmente sente tudo com um apelo maior do que o normal? Quando parece que tudo é muito importante e cheio de nuances? Para Elise, o mundo é assim: um lugar carregado de expressões e sentimentos. Ela sofre diariamente na escola (e todo mundo sabe como os adolescentes podem ser cruéis) por ser quem é, por ser diferente, e em casa, apesar do carinho da família, ela sabe que no fundo todos estão esperando que ela faça alguma loucura ou coisa assim. Sua vida é muito difícil em diversos aspectos e em seu desespero, ao tentar mudar seu jeito de ser, ela descobre que não é bem assim que a vida deve ser. E é aí que está a beleza da história.

Com uma narrativa simples, emotiva, singela, envolvente, delicada e doce, a autora fez com que, ao se assumir como é, Elise passasse uma mensagem muito linda. Ela conseguiu transformar o que seria apenas mais uma história sobre uma adolescente problemática em uma apaixonante aventura dentro de si mesma. Sempre com uma trilha sonora para lá de impecável (é claro) e um enredo quase mágico, tamanha sua perfeição, dedicação aos detalhes e empenho em criar um desfecho digno para toda a história, sem deixar pontas soltas ou questões em aberto para nenhum personagem (pois é óbvio que o livro não se resume em Elise, e eu estou focando nela por ser a protagonista e a responsável por tornar a obra maravilhosa).

Resumidamente, A playlist da minha vida é um livro sobre se encontrar, se assumir, se deixar viver, romper barreiras, derrubar estereótipos, ignorar terceiros e seguir sendo você mesmo. Uma história emocionante de uma adolescente que descobriu que poderia usar a música (assim como eu uso os livros) para enfrentar o mundo. Sobre não deixar que as adversidades do dia a dia se transformem em barrerias intransponíveis, sobre viver um dia de cada vez, ver seus diversos mundos (escola-família-sonhos-segredos) colidirem, quebrar a cara, tentar novamente, encontrar ânimo para continuar, aprender a se abrir, encontrar saídas seguras, se expressar, se impor e principalmente, ser feliz. Preciso dizer que recomendo?
Eu gostava de projetos nos quais eu pudesse desmontar as coisas para entender como elas funcionavam. O problema é que não dá para fazer isso com as pessoas. (Pág 82).
Eu queria acreditar que existe algum lugar no mundo onde as pessoas são mais maduras que no ensino médio, só que ainda não encontrei. (Pág 134).
[...] os meus pais decidiram que eu estava pronta para voltar para o mundo. Não sei o que os fez achar isso. Até onde eu sabia, eu nunca estive pronta para o mundo. (Pág 162).
A verdade é que ligar demais para uma determinada coisa é considerado, por definição, como algo nada decolado e não importa se essa coisa seja música, Star Wars ou refinarias de petróleo. (Pág 182/183).
Eu não sei. Às vezes eu me sinto como se... Existem todas essas regras que você precisa seguir simplesmente parar ser alguém. Sabe como é? Você deve carregar uma bolsa, não uma mochila. Você deve usar bandanas, ou não usar bandanas. Não há problema em se descrever como linda, mas não é nada legal se descrever como eloquente. Você pode se sentar na frente no ônibus da escola, mas não pode se sentar no meio. Você não deve ficar com um garoto, mesmo que ele queira isso. Eu não entendo essas coisas. Há muitas regras e elas não fazem o menor sentido. E não consigo aprender a lidar com todas elas. (Pág 204).
PS: Os direitos do livro foram comprados então... Vai ter filme. #YaraDesmaiou

PS 2: Acho que este livro devia ser implantado em escolas, muitos adolescentes poderiam encontrar, na história da Elise, um caminho para suas próprias histórias.

Book Trailer:


Sobre a autora:

Leila Sales cresceu nos arredores de Boston, Massachusetts, e é formada em psicologia pela Universidade de Chicago. Trabalha numa editora de livros infantis em Nova York, onde vive. É autora de dois livros para o público juvenil:Mostlygood girls (Simon & Schuster, 2010) e Pastperfect (Simon Pulse, 2011).

Outras informações:
Compare o preço: Buscapé.
Autora: Leila Sales.
Editora: Globo Livros.
História: 5/5,
Narrativa: 5/5.