sábado, 7 de março de 2015

O doador de memórias.

Voltei! E com resenha nova...



Em um mundo sem dor, sentimentos, questionamentos e lembranças, as pessoas vivem em perfeita harmonia esperando que alcancem a idade apropriada para receber suas obrigações e começar a agir de maneira adequada para aquele "status", vivem em famílias organizadas de acordo com a afinidade entre o homem e a mulher e os mesmos recebem suas crianças somente depois de provarem se entender perfeitamente juntos.
Todo ano existe uma cerimônia onde as crianças recebem novos objetos que simbolizam o quanto cresceram e quais responsabilidades passarão a ter após a cerimônia. Os "Quatro" passam a ser "Cinco". Os "Cinco" se transformam em "Seis" e por aí vai... Até que cheguem aos "Doze". A cerimônia dos "Doze" é a mais importante, a mais esperada por todos. É quando se é designado para a profissão que seguirá.
E apesar de estar ansioso e até mesmo com medo de sua cerimônia, em momento algum Jonas esperou que fosse ser designado para uma profissão que desconhecia, uma profissão que faz dele o responsável por ter todas as memórias do mundo.
Seu treinamento é difícil e doloroso, forçando Jonas a ser corajoso. Mas quando ele percebe tudo aquilo que lhe foi roubado (sonhos, amor, sensações, cores etc), começa a questionar o mundo em que vive e isso pode dar tremendamente errado...
O universo de "O doador de memórias" é um tanto louco, mas muito interessante, rico em detalhes e mensagens implícitas. Um mundo completamente desprovido de memórias, sentimentos e escolhas (entre outros aspectos) é difícil de assimilar. Demorei para aceitar algumas coisas que li, dei risada de outras, achando-as ridículas demais, e fiquei chocada em outras situações, porém talvez por ser tão inimaginável esta nova sociedade seja tão instigante e cheia de surpresas. Quanto mais eu lia, mais queria ler e conhecer tudo aquilo intimamente e a narrativa bastante teórica com poucos diálogos me ajudou nisso. O livro inteiro se pareceu com uma aula sobre outro modelo social. Sim, a frase anterior pode passar a impressão de que o livro te levará para as aulas de sociologia da escola/faculdade, mas é verdade. Ele se parece com uma explicação de alguma teoria social maluca inventada por uma criatura completamente insana.

E como pode tanta loucura assim resultar em algo tão interessante de ler? Ainda estou me perguntando isso, na verdade. A narrativa é teórica (como eu já disse), a história vocês já sabem como é (uma insanidade total) e o protagonista, Jonas, não é um personagem marcante, não é extremamente inteligente, não é excessivamente curioso, não se destaca em nada e realmente nem é tão legal. Algumas vezes ele até me irritou um pouco, por ser tão sem sal. O garoto sempre parecia confuso demais, sem graça demais, lerdo demais ou simplesmente não ligava para nada e eu ficava doida, me perguntando como ele nunca se questionou sobre uma coisa ou outra dentro daquela sociedade, tentando entender como ele realmente aceitava tudo aquilo. Certo, entendo que por não conhecer outro modelo social, ele acredite que está tudo certo ali, mas ainda assim não consegui me acalmar com relação à isso.

Os diálogos são poucos, muita coisa é simplesmente narrada, sem acontecer enquanto acompanhamos a leitura, sabe? São coisas apenas comentadas. Em alguns momentos isso atrapalha, pois queria mais detalhes de determinadas cenas, mas também acaba sendo interessante não ter todas as respostas de uma vez só. E se você estiver atrás de respostas é melhor se acalmar um pouco, pois neste livro temos pouquíssimas (ou quase nada) delas. Os mistérios são tantos... Mas as respostas, quase inexistentes. Principalmente no desfecho. Depois do livro inteiro sem nada de ação e poucos diálogos realmente exaltados, esperava um final mais agitado e repleto de confusões, mas encontrei algo super vago e com mais perguntas do que respostas, novamente. Não foi ruim, mas podia ser bem melhor.

Narrativa, história e personagens imperfeitos e muitas coisas que eu gostaria que fossem mudadas, mas com todo este jeitinho diferente e levemente falho tudo acabou se encaixando da melhor maneira possível, dando origem à uma história interessante, crítica e reflexiva. Querendo ou não você acaba se abalando ao imaginar o mundo como descrito no livro. É tão surreal... E tão provável de um dia acontecer de verdade... Enfim, O doador de memórias me decepcionou no quesito narrativa (que é teórica demais), mas surpreendeu com sua história, me deixando curiosa pelo segundo livro e procurando logo o filme para ver como ele ficou nas telonas. E quer saber? Ele é louco e um pouco incompleto, mas é bom e eu recomendo!
- Nosso povo fez essa opção, a opção de ir para a Mesmice. Antes do meu tempo, antes do tempo anterior ao meu, muito tempo atrás. Desistimos das cores quando desistimos do sol e acabamos com as diferenças. - Calou-se e ficou pensando um instante - Adquirimos controle sobre muitas coisas. Mas tivemos de abrir mão de outras. (Pág 99/100)
Trailer da adaptação:




Sobre a autora:

Com mais de 30 livros publicados, a americana Lois Lowry já recebeu diversos prêmios por sua obra, como o Boston Globe-Horn Book, o Dorothy Canfield Fisher, o Mark Twain e a Medalha John Newbery, concedida pela Association for Libray Service to Children, pelos livros Numbers the Stars e O Doador.

Outras informações:
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Autora: Lois Lowry
Editora: Arqueiro.
História: 4/5.
Narrativa: 3/5.