sexta-feira, 2 de janeiro de 2015

Como falar com um viúvo.

E que tal começar o ano com resenha? Depois de tantos vídeos é bom voltar a escrever. *-*
E nada melhor do que ser um dos livros do Top Comentarista e um dos melhores do ano anterior, não é?

Editora Sextante Como falar com um viúvo
Doug Parker é um homem comum, simples e sem graça. Ninguém olharia para ele duas vezes na rua, na escola ninguém imaginava um futuro brilhante para ele... E foi assim que ele cresceu e se transformou em apenas mais um. Só que agora, ele é mais um viúvo.
Quando se casou com a linda Hailey, 10 anos mais nova do que ele, Doug jamais imaginou que ela iria deixá-lo, mas foi o que aconteceu quando ela embarcou naquele avião que caiu.
Todo o mundo de Doug explodiu junto com a aeronave e agora ele escreve uma coluna chamada "Como falar com um viúvo" que é o maior sucesso, porém sem a amada ali isso parece sem sentido e errado.
De quebra ainda existe sua irmã gêmea que brigou com o marido e decidiu se mudar para sua casa e fazê-lo voltar a se relacionar com as mulheres. E ainda Russ, o filho adolescente e revoltado de Hailey, que vive por perto. Ou seja, Doug se encontra em uma situação um tanto difícil...



Como pode uma história tão triste me fazer rir tanto? Essa é a pergunta que roda enlouquecida em minha cabeça sempre que me lembro de "Como falar com um viúvo". O título do livro é para lá de sem graça, e sua capa também (afinal nome da obra e do autor estão todos juntos e parecem ser apenas uma coisa só), mas seu conteúdo é algo extraordinário, repleto de humor depreciativo e sincero e muito, muito sentimento. Tudo dosado de maneira tão única e correta que, em cada página você é levado por um turbilhão de sentimentos, você dá risada, quer chorar, se emociona e, de quebra, ainda leva uns "tapas na cara" que são dados de maneira tão sincera e humorística que te deixa em transe. Com certeza este é um dos melhores livros não apenas do ano de 2014, mas sim da vida.

Doug Parker é um protagonista para lá de comum. Não tem nenhum super poder, nenhuma coisa em que se destaque, por isso é tão humano e verdadeiro. Seu modo de ver a vida é excêntrico, melancólico e complicado. É cheio de medos, traumas e frustrações, indignado com a vida e a morte... Mas em momento algum se torna apático ou tedioso. Seu humor é sarcástico, negro e levemente doentio, arrancando risadas do leitor nos momentos mais inesperados. E sua construção é tão perfeita que tenho certeza que existem vários Dougs por este mundo, assim como Russ, seu enteado revoltado e respondão que aparece várias vezes no decorrer do enredo e sempre acrescenta emoção e uma nova perspectiva à história, pois sua dor é diferente da de Doug (perder uma mãe é diferente de perder uma esposa) e a forma como ele lida com ela, também. Acompanhar esses dois enquanto tentam superar (ou não) a perda é enriquecedor e comovente.

E parte dessa grandiosidade também se dá por conta da narrativa de Jonathan, que eu já conhecia de Sete dias sem fim e Tudo pode mudar, dois livros lindos, cômicos e emocionantes. Nesta obra, Jonathan se mostra no auge de toda sua magnitude, escrevendo com muito mais envolvimento e desenvoltura, mas com tanta graça que é impossível não se recriminar durante a leitura, afinal a vida do protagonista está uma verdadeira tragédia e você fica dando risada dele. Mas não rir é tão impossível! A obra é extremamente tragicômica e a narrativa é única. Nunca encontrei outro autor que soubesse usar as palavras de maneira tão naturalmente engraçada, criando situações inusitadas e reais, tratando de dramas familiares e humanos com tanta desenvoltura enquanto cria uma história com bases profundas e cotidianas.

A obra, na verdade, é uma lição de vida. Como disse, dá vários "tapa na cara" do leitor, passa mensagens doces e literais, apresenta personagens com várias nuances, mostra o crescimento forçado de uma pessoa e como o mundo exterior nos afeta mesmo quando tentamos nos tornar imune a ele. "Como falar com um viúvo" é mais um daqueles livros que, antes mesmo de terminar, eu já queria sair entregando um exemplar para cada pessoa que encontrasse na rua, pois o mundo seria infinitamente melhor e mais compreensivo se todas as pessoas (ou boa parte delas) em algum momento passasse perto da obra de Jonathan e lhe desse uma chance. O livro mexe com você desde a primeira até a última página e quando você termina, fica somente olhando para o nada e se perguntando como isso pode acontecer, como sua vida, de repente, se tornou tão sem graça sem a companhia de Doug e Russ. E espera, desesperadamente, que a Editora Arqueiro decida publicar todos os outros livros do autor e que ele, por sua vez, nunca pare de os escrever.

PS: Queria deixar o livro inteiro aqui nos quotes, então não consegui escolher apenas um.

Perdi alguma coisa quando Hailey morreu. Não sei direito como chamar isso, mas trata-se do mecanismo que nos impede de dizer a verdade quando alguém nos pergunta como estamos, aquela válvula vital que mantém as nossas emoções mais profundas e genuínas debaixo da tranca e cadeado. Não sei exatamente quando perdi essa capacidade, ou como poderei recuperá-la, mas por enquanto, no que diz respeito a tato, civilidade e discrição, sou um acidente prestes a acontecer, vez após vez. (Pág 22).

Não me iludo. Mas só porque um fato é verdadeiro, isso não quer dizer que eu esteja pronto para encará-lo hoje. Ás vezes a única verdade com que podemos lidar é aquela com que acordamos a cada manhã. E hoje, como acontece em todas as manhãs, acordei com a minha dor. Sendo assim, faça-me o favor de não mexer com ela. (Pág 67).

Sobre o autor:

Jonathan Tropper é o autor de "Como Falar com um viúvo" (Lançado no Brasil pela editora SEXTANTE), "Everything Chage", "The Book of Joe", "Plan B" e, mais recentemente, "This Is Where I Leave You". Ele vive com sua família em Westchester, Nova York, onde ensina a escrever no Manhattanville College. Ele está adaptando "This Is Where I Leave You" como um longa-metragem para a Warner Brothers Studios.

Outras obras dele:


Outras informações:
Compare o preço: Buscapé.
Título: Como falar com um viúvo.
Autor: Jonathan Tropper.
Editora: Sextante.
História: 5/5.
Narrativa: 5/5.